Quando eu era menina, no século XX, era muito comum escrever quadrinhas nos cadernos da escola. Hoje fiquei lembrando de algumas delas e percebi quão atuais podem ser ainda...Olha só:
essa se aplica perfeitamente aos "amores do mundão", desse "amor" tão em voga nos dias de hoje
O amor tem fases, realmente
pois à lua é semelhante
antes da posse é crescente
depois da posse é minguante
outra:
Quando for baixar à cova
o teu corpo no caixão
em vez de terra por cima
coloco meu coração
Tão piegas...
essa é demais:
Teu olhar me perguntou
Meu olhar te respondeu
a lua nos avistou
e sorrindo se escondeu
perguntei depois à lua
se tu gostava de mim
ela riu maliciosa
e respondeu-me que sim
Mais uma:
Se és doido por mim, pois vem
que eu doida sou já te disse
devem viver muito bem
dois doidos de igual doidisse
Se alguém me perguntar quem são os autores dessas e de outras eu não vou saber dizer, era uma época que o povo se apropriava das produções alheias e tornava-as domínio popular, com um AD bem grande para garantir o uso...
O mais interessante é que às tardinhas nas calçadas das casas sentavam as mocinhas a "declamarem" tais quadrinhas (essas e outras tantas) para ver quem sabia mais, e ficavam até a noite tomar posse do tempo... Um verdadeiro "sarau". Os paquerinhas se aproximavam e entravam no jogo e, então sim, noite a dentro, até nove, dez horas ficavam jogando conversa fora, contando piadas, tocando violão, e coisa e tal... e daí muitos namoros se iniciavam. Bons tempos. Vida tranquila, bucólica, sem violência. Ah! nostalgia que me leva ao túnel do tempo e me traz a memória os velhos tempos, velhos dias...
E agora,de repente, dou um salto no tempo e lembro outra época, um pouco mais velha, entre os 17 e os 22 anos, quando durante o mês de Dezembro havia um baile de formatura em 28 dias desse mês, excetuando-se somente o Natal (24 e 25) e o revellion (31). Todo dia uma festa!
Haja roupa! E as trocas entre as amigas eram inevitáveis (para não repetir), para impressionar os meninos, era um Deus nos acuda! Enquanto para os rapazes um paletó resolvia e este ainda era compartilhado por todos para terem acesso ao clube. (Nessa época os bailes de formatura eram em clubes). Um entrava, tirava o paletó colocava sobre uma cadeira, uma menina pegava e saía, discretamente, com o paletó debaixo do braço e ia até o portão (ou próximo deste) e o entregava para um outro menino o vestir e entrar também. E o ritual se repetia até que o último rapaz da turminha entrasse no baile.
E o fim da festa? Geralmente as últimas músicas eram marchinhas de Carnaval que a banda tocava até o sol raiar e todos se "esbaldavam" de tanto pular. Na verdade rodar pelo salão não sei quantas mil vezes...
A volta para casa era a pé, comendo pão quentinho e leite de garrafa, pelas ruas da cidade, sem perigo, sem estresse, sem medo. Todos cantarolando as últimas músicas da festa, até chegarem em casa, são e salvos...
Em fevereiro, nos bailes de carnaval, também realizados em clubes, o retorno acontecia da mesma forma, diferentemente porém, após a banda ter descido até a praia, onde todos mergulhavam num mar morninho,ao som de "Ô quarta-feira ingrata chega tão depressa..." principalmente na quarta-feira de cinzas...
E, depois, como todo cristão que se preze, era chegar em casa, tomar um banho, trocar a fantasia e seguir para a Igreja para tomar cinza, lembrando que ao pó retornaríamos, tempos bons, bons tempos!
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