Por que tia? Porque sou tia de muitos e vó só de dois, por isso não é o blog da Vovó Dedê. Aqui esvaziarei o coração quando estiver muito cheio; preencherei minhas noites insones; inicio algo concreto para o tempo de aposentada que se avizinha.
Desejo escrever meu dia-a-dia difícil e revisar com palavras e sonhos meu cotidiano e comunicar meu interior, vivido e experiente. Encontrar amigos, leitores, parentes aos quais oportunamente poderei homenagear.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Água com Açucar

Nos idos dos anos sessenta do século passado, quando os verdadeiros "anos rebeldes" vigoravam e meu adorado país, pós golpe militar, se via sob o domínio da ditadura... Quando o voto ainda nem sequer tinha sido exercitado por mim. (Na verdade so votei uns dez anos depois [exagero!]) Num tempo em que a juventude se achava engajada politicamente ou, mesmo que de longe, envolvida nos movimentos em voga, ao mesmo tempo em que hippies, roqueiros, folks, pops, e reis do yeyeye se multiplicavam na adorada pátria amada salve, salve. Nesse contexto histórico, eu tive uma paixonite por um rapaz roqueiro, lindo, tudo de bom. Vivia ele rodeado de garotas, mas era simplesmente um grandíssimo pegador. Bom, eu toda boba e certinha acabei me iludindo pelo seu cabelo lisinho e longuinho, pelos seus olhos tentadores, pelo seu abraço aconchegante e por que não?! também pelo beijo que ele dava como ninguém: terno, doce, sensacional (pelo menos para mim adolescente, boboca e iniciante nesse aspecto).
Ele, por sua vez, não tava nem aí pra mim, comigo só ficava (Ah sim, naquele tempo também tinha ficar, não no contexto e do jeito de hoje.). Toda festinha dançávamos juntinhos, rostinho colado, abraços e beijinhos doces... e conversávamos muito: horas e horas. E, muitas vezes, da meia noite às cinco da manhã, nessas festinhas que aconteciam nos clubes de nossa cidade. E eu me apaixonava cada vez mais...
Um dia, por fim, acabamos acertando as coisas... Ele disse que eu era super legal, inteligente, interessante [não falou que eu era bonita =( ]. Ele, nas suas palavras, não me merecia porque eu era certinha demais para ele e que uma pessoa mais centrada, mais ajuizada, era melhor para mim. Que eu merecia um homem ajustado coisas e tais... Ai, como doeu ouvir isso... Eu o amava [?] e desejava que ele fosse meu companheiro pro resto da vida, o pai dos meus filhos... essas coisas todas de primeiro amor de adolescentes do século vinte. Bem verdade que eu nem me achava adolescente nesse tempo. Eu me considerava a-dul-ta!!! (acho que meu neto herdou de mim essa síndrome, porque aos quatro anos ele se diz pré-adolescente!)
Então, ontem sem que nem pra quê, lembrei de toda essa parte da história da minha vida, por causa da evocação de uma musiquinha que compus para ele, naquela época, a caminho da praia, cantarolando para a Côia, uma amiga de saudosa memória (que Deus a tenha em sua morada celeste!).
A letra é essa "preciosidade" abaixo que editei aqui para não mais esquecer, porque lembrei inteirinha dela na manhã de ontem... e a música está aqui perfeita na minha cabecinha de meia idade...

Para S.

Eu me apaixonei
perdidamente por voce,
gamadinha fiquei
um sonho quis viver.
Esse sonho porém
so me fez sofrer.

Ow ow um amor faz
esquecer um outro amor

O remédio agora eu sei
é outro alguem querer
e por ele ser amada
pra não mais sofrer
dizem por ai meu bem
que um amor faz esquecer
um outro amor

ow ow um amor faz esquecer
um outro amor


Olha aí eu na época...


Pela letra, pela imagem (Ai meu Deus que roupa...) dá para perceber a "garota cabeça" que eu era naquela época... E eu ter-me lembrado de toda esse episódio, com certeza tem algo bem mais significativo, bem maior, que não alcança a minha "vã filosofia"... Pois é!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Ser avó é ser mãe duas vezes

Eu não participo de blogagens coletivas, mas hoje eu vi em pauta o tema maternidade em outros blogs, e me deu vontade de falar sobre ele hoje também. Na verdade faz quase um ano que algo relacionado permeia meus pensamentos, entre um assunto e outro do meu cotidiano.
Sempre fui muito maternal. Cuidei dos filhos de muitas amigas da mamãe, voluntariamente. Dei aulas para um monte deles... Amava ninar, contar historinhas, cantar (desafinadissima, mas cantava!)...
Então decidi que seria mãe de quatro filhos. Tinha nomes para todos eles. Seriam dois meninos e duas meninas ou seja: dois casais! Os namorados que tive antes daquele que me conduziu ao altar, todos sem excessão embarcavam na minha ousada e corajosa maternidade e achavam que eu era louca por almejar "tantos" filhos numa época em que a pílula, recém descoberta, era o que havia de melhor no controle da maternidade (e das práticas sexuais amplamente disseminadas pelo movimento hippie - o tal amor livre). No fundo, eu era mesmo careta e fora dos movimentos políticos radicais do meu tempo juvenil. Eu queria mesmo era achar o meu príncipe encantado, mesmo sem ser montado num corcel branco, e ter meus pares de filhos e sermos felizes para sempre. Era romântica até dizer basta. Casei cheia de sonhos...



Daí vieram os filhos, ambos eu e ele, desejávamos que fosse mulher nosso primeiro bebê. Deus ouviu nossa oração, então nasceu a Marcele Caroline - nome composto aceito com facilidade pelo pai. Eu tinha a sindrome dos nomes compostos, resquícios da minha frustração por meu nome não ser assim.


Na foto acima, dia do batizado, ela está nos braços da tia. E eu estou com a Renata, minha afilhada, filha da tia Fátima,a madrinha da Marcele

Depois me nasceu o segundo filho, e dessa vez o Senhor também ouviu a minha oração, que Lhe pedia um filho Homem para alegrar meu esposo, assim chegou o nosso amado Tiago Luiz...


Nome também composto, assim mesmo com "Z", apesar dos meus protestos...Mas para a chegada dele houve muita luta da minha parte, porque o pai não achava que pudéssemos ter mais filhos. A vida era muito cara, muito dificil no dizer dele, e criar filhos sem condições, nem pensar... Eu, porém, sabia e sei que Deus dá o frio conforme o cobertor; que não éramos tão pobrezinhos assim, e que tínhamos condição demais, segundo a providência de Deus, que não está realacionada ao TER, mas ao SER. Também sentia que Deus não desejava que nossa primogênita estivesse sozinha ao tornar-se adulta...

E, por fim, chegou a Manuele Carine, como aos irmãos, dei a ela um nome composto.


Porém a descoberta da terceira gravidez me deixou aflita [se o maridão não queria dois, imagina três...]. Depois que isso não se tornou mais problema algum, veio a questão do sexo. Ele queria outro meninO e eu mais uma meninA. Meu argumento era: "Amor, se a Cele precisar de companhia o nosso Tiago nunca será suficiente. A mulher é companheira de perto, 24 horas do dia. Uma irmazinha será sempre útil no futuro. Vai que a gente morre, ela vai necessitar de alguém por perto para compartilhar sua dor... Um menino sai sempre pelo mundo, nunca vai entender o universo feminino de forma real... etc, etc"
[Abre parênteses (na verdade, vejo hoje que tudo isso já se achava nos planos de Deus nas nossas vidas, como foi revelado no trágico janeiro do ano passado. E, o melhor e não esperado, o meu Tiago Luiz, o IRMÃO, apesar de não ficar 24 horas junto, foi um companheiro e tanto.)fecha parênteses].
Mais uma vez Deus ouviu minha oração. Deus entendeu meus argumentos, porque ele sabia que a Cele ia mesmo necessitar da irmã...

E, de repente, lá estava eu com três crianças lindas, dóceis, bagunceiras, inteligentes, espertas e maravilhosas:





É, meu Tomaz [sem TH e com Z] não o tive, mas nunca fiquei triste, ao contrário, sempre agradeci a Deus pelo dom da maternidade tardiamente ocorrida (para meu tempo), pois fui mãe pela primeira vez aos 33 anos... E feliz, porque para o marido que só queria ter um filho, três estava mais que de bom tamnho.

O tempo passou rápido as crianças cresceram... já prevejo a continuação dessa família construida por mim, com base sólida no amor humano e no temor a Deus, eles iniciam a construção de suas famílias, ainda namorando, mas já muito certo de suas escolhas.

Hoje sou feliz vovó de dois lindos netinhos que completam satisfatoriamente o ciclo. Sou feliz pela família que juntos, meu marido e eu construimos, mais feliz ainda por ver meus rebentos responsáveis, honestos e de bom caráter, que a lição ensinada por mim valeu a pena. Fiz um bom trabalho e muito me alegra a benevolência do meu Senhor em nossas vidas.
Contemplo, grata a Deus, o rumo tomado por minha filha mais velha, precocemente viúva, mas também precocemente madura e segura das suas escolhas. E já disse alguém que ser avó é ser mãe duas vezes... Então?